terça-feira, 8 de dezembro de 2015
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Instantes
Há loucuras que não se deve curar,
Aquelas que te dão asas para voar,
E que evitam que o barco venha a naufragar.
E que evitam que o barco venha a naufragar.
Há
limites que foram feitos para se ultrapassar,
Aqueles que rompem barreiras,
E te desvendam as paisagens de um novo lugar.
Aqueles que rompem barreiras,
E te desvendam as paisagens de um novo lugar.
Há emoções que não se deve temer sentir,
Aquelas que pulsam lancinantes,
Que ardem inflames do início ao fim.
Aquelas que pulsam lancinantes,
Que ardem inflames do início ao fim.
Há instantes que não se devem derrogar,
Tempos infindáveis em que um átimo de segundos,
Vale como eras na história por tanto nos ensinar.
Tempos infindáveis em que um átimo de segundos,
Vale como eras na história por tanto nos ensinar.
Há vidas que não se pode evitar viver,
Aquelas que alegram que enobrecem,
Que transcendem o ser!
Aquelas que alegram que enobrecem,
Que transcendem o ser!
domingo, 4 de outubro de 2015
Resposta
Depois da resposta que recebi,
Já não poderia responder mais nada,
Fiquei assim, trinco sem tranca,
abismada.
Depois das portas que abri,
Já não poderia caber em si,
Qualquer saída imaginada.
Depois das andanças em que me perdi,
Era eu, o começo do fim,
Ou o fim do começo, dessa longa
estrada?
Depois da resposta que recebi,
A tarefa de cair em si,
Já não poderia ser adiada.
E foi então que percebi,
Que a vida estava em mim,
Inteiramente amalgamada!
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Desnudar
Não
me interessa a segurança das terras conquistadas,
Tudo que aprendi até aqui é quase nada,
Se os pés algum dia tiveram raízes,
Hoje os braços são asas largas.
Tenho uma sede voraz de beber o mundo,
Meu inspirar aspira o profundo,
E me faço cega, surda e muda,
Ao que não quero ver ou escutar,
Ao que seria o desperdício da palavra,
No simples ato de falar.
Só me interessa Ser no estar de cada instante,
Inteiramente entregue, presente, constante.
Aos que se aprisionam nas trilhas atravessadas:
Quero o desbravar de novas caminhadas,
E a paz de estar junto à vida conciliada.
Deixo tudo, levo nada!
terça-feira, 8 de setembro de 2015
Eclipse
Sou
a brisa suave que veio te afagar,
O
abraço sincero que vem de além mar,
Sou
a estrela que brilha para te iluminar,
Uma
cigana,
Uma
sereia,
A
fada boa,
A
bruxa má.
Sou
o anjo que abandonou as asas,
Quando
a seta inverteu a direção,
E
em escândalo,
O
cúpido derradeiro atingiu o coração.
Sou
quem te entrega o oceano para navegar,
O
mergulho profundo,
Que
te desvenda os mistérios do mar.
Sou
o sol que nasce para te aquecer,
A
chuva que cai para te embalar,
Nos
sonhos que só comigo poderás ter
E
irás sonhar.
Sou
a poesia que aspira os poetas,
Dos
músicos a inspiração,
A
rima certa na incontida métrica,
Que
clama teu nome em cada canção.
Sou
o toque do orvalho na pétala da flor,
A
te revelar nas coisas simples da vida,
A
grandeza do meu amor.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Tudo o que você pensa saber sobre adicção é errado.
Quase tudo o que pensamos saber sobre o vício está errado e se
começarmos a absorver as novas provas sobre ele, acredito que nós vamos ter que
mudar muito mais do que as nossas políticas de drogas.
Imagine que três vezes ao dia durante vinte dias você fizesse uso de
heroína. O que aconteceria? Temos uma história sobre o que iria acontecer que
nos foi dito por um século. Nós pensamos que porque existem ganchos químicos em
heroína, seu corpo se tornaria dependente e você começaria a precisar deles
fisicamente e no final desses 20 dias, você teria se tornado um viciado em
heroína. Certo? Isso foi o que eu pensei. Mas e quando as pessoas ficam
hospitalizadas por um longo período fazendo uso de diamorfina que é heroína em
estado puro, por que quando recebem alta não se tornam dependentes?
O professor de psicologia em Vancouver Bruce Alexander realizou um
experimento que realmente nos ajuda a entender esta questão. Ele colocou um
camundongo em uma gaiola com duas fontes de água, uma em estado puro, outra
misturada com heroína ou cocaína e o animal quase sempre preferiu a água
alterada vindo a morrer rapidamente.
Mas o pesquisador observou que colocou o animal em uma gaiola vazia sem
nada para fazer exceto usar drogas e se propôs a fazer algo diferente:
construiu uma gaiola que nomeou “parque de rato” onde eles tinham queijo, um
monte de bolas coloridas, túneis, um monte de amigos e sexo.
Nessa gaiola os camundongos também foram expostos a ambas fontes de água
(normal e drogada), mas aqui o resultado é fascinante: no “parque de
ratos” eles não gostam da água com drogas, eles quase nunca a usam,
nenhum deles jamais a usou compulsivamente, nenhum deles jamais teve
overdose. Você vai de quase 100% de overdose quando eles estão isolados para 0%
de overdose quando têm vidas felizes e conectadas.
Tais resultados se repetiram quando observados os retornos dos soldados
da guerra do Vietnan de cuja tropa, 20% fazia uso de heroína. Tais soldados
acompanhados nos retornos aos seus lares e desses, 95% sem passar por nenhuma
espécie de reabilitação, simplesmente parou o uso, não se tornaram adictos.
Nesse contexto o pesquisador questiona-se: e se o vício não for causado
pelas conexões químicas que ocorrem durante o uso prolongado da substância? E
se o vício for uma resposta adaptativa ao meio ambiente?
O professor Peter Cohen na Holanda propõe que talvez não devêssemos
chamar vício e sim ligação. Os seres humanos têm uma necessidade natural e
inata de ligação e quando estamos felizes e saudáveis, nós vamos ligar e se
conectar uns com os outros, mas se você não pode fazer isso, porque você está
traumatizado ou isolado, ou abatido por vida, você vai se relacionar com algo
que vai lhe dar alguma sensação de alívio. Agora, isso pode ser o jogo, a
pornografia, a cocaína ou a maconha, mas você vai se relacionar e se conectar
com alguma coisa, porque essa é a nossa natureza, isso é o que queremos como
seres humanos.
Uma parte essencial da dependência diz respeito sobre o dependente não
ser capaz de suportar estar presente em sua própria vida e ao invés de ofertar
um suporte à eles, nós os punimos, envergonhamos e lhes damos registros
criminais, colocamos barreiras para que eles possam se reconectar e o que
devemos fazer é justamente o oposto, a mensagem a ser passada é: você não
está sozinho, nós amamos você.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
O Amor
Chega de mansinho, terno e
delicado fazendo carinho para encantar, feito brisa fresca que afaga a pele na
varanda em alta noite de luar.
Vem como uma onda forte e mansa
que a todos nós ronda, bate na porta, mas só entra se o convidar.
Multicolorido, multifacetado, eis
o amor multiplicado só para iluminar.
Se apresentando aos olhos de quem
o queira enxergar, é como barco que encontra o cais e se lança para ancorar.
É como a presença indescritível da
paz que a todos nós vem visitar, na sede infinita de fazer morada e nunca mais
ter que partir pensando em nos abandonar.
É como criança brincando na roda,
mãe cantando cantiga de ninar, é como pai apoiando os primeiros passos, é
pássaro que se sabe livre e louva as asas que o fazem voar.
É a descoberta da liberdade e da
grandeza infinita que a vida tem a ofertar, é como saciar a sede nas águas dos
rios que desaguam no mar!
terça-feira, 30 de junho de 2015
Mazzeo e a mídia
Na sociedade capitalista, os meios de
comunicação, em sua maioria, constituem monopólios de informação e,
consequentemente, de manipulação ideológica porque veiculam sempre as
"informações" sob o enfoque hegemônico das classes dominantes e, por
conseguinte, da ideologia dominante, influindo e moldando negativamente a
subjetividade das pessoas, dificultando a formação de uma consciência crítica
em relação à própria sociedade e às suas contradições.
Daí é fundamental para o
aprofundamento da democracia a desmonopolização da informação, ou melhor dizendo,
o controle social da informação e do acesso aos meios de comunicação. No caso
brasileiro, isso é notório, já que temos os meios de comunicação nas mãos de
algumas famílias que autocraticamente se apropriaram da informação.
Para fazermos avançar a
democratização da informação, temos que pensar em novas formas político-sociais
que permitam o amplo acesso dos movimentos sociais, sindicatos, universidades e
escolas públicas, etc. às rádios e TVs, assim como construir emissoras de rádio
e de televisão sob controle do conjunto da sociedade. Em meu modo de entender,
a democratização da informação somente será possível com uma forte e organizada
pressão da sociedade.
Antonio Carlos Mazzeo
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Racismo: da alienação à consciência crítica
O Surgimento
Desenvolvida no continente africano, foi de lá que veio o primeiro
hominídeo possibilitando o florescer da raça humana, o que significa
dizer que sim, a cor fundante de nossa raça era negra e tal concentração de
melanina, bem como os fios dos cabelos crespos serviam como proteção à caixa craniana diante dos
raios solares, sendo recursos adaptativos sem os quais provavelmente naquele
tempo a espécie não teria sobrevivido.
Com o afastamento do continente africano para outras zonas do globo
terrestre onde existiam temperaturas menos elevadas, a necessidade de
concentração de melanina vai sendo atenuada, o que produz o embranquecimento,
bem como o desencaracolamento dos cabelos e o afilamento do nariz que serve
como recurso para aquecer melhor o ar num clima mais frio e umidificar o ar
seco inspirado. Ou seja, as mudanças se dão sempre como recursos que atendem a
melhor adaptabilidade possível do animal humano ao seu habitat, gerando
registros genéticos que originam as diferentes etnias.
Hoje em uma sociedade ainda marcadamente racista, por uma herança
maldita de uma série de construções sociais anteriores (que recebem manutenção
cotidiana por parte daqueles que querem manter o status quo), conseguimos
utilizar tais diferenciações extremamente valiosas, como meio de opressão e
hierarquização a partir de padrões equivocados e falsos pressupostos, sem a
análise crítica de que são construções historicamente constituídas e que não só
podem como devem ser desfeitas.
A África
Continente fértil e rico por natureza, somando hoje 54 países, não foi apenas o berço da espécie, bem como o solo onde se desenvolveu uma das mais importantes civilizações antigas, a egípcia, a qual, ao contrário do que a
cinematografia notadamente norte-americana se esforçou em reproduzir como
brancos ou “morenos”, era constituída por negros que foram os responsáveis pelo
desenvolvimento de um complexo sistema político, econômico e sócio-cultural.
Essa civilização promoveu o desenvolvimento da escrita, agricultura, medicina, comércio, arquitetura, navegação, extração de minério, matemática entre outros aspectos que exemplificam a inegável inteligência, sofisticação e legado para todas as civilizações posteriores que esse continente ofertou e continua a ofertar.
Essa civilização promoveu o desenvolvimento da escrita, agricultura, medicina, comércio, arquitetura, navegação, extração de minério, matemática entre outros aspectos que exemplificam a inegável inteligência, sofisticação e legado para todas as civilizações posteriores que esse continente ofertou e continua a ofertar.
Vale ressaltar que desde essa época já existiam diversas formas de
escravatura. A história global tem sido um repetir de guerras, invasão, espoliamento e submissão de um povo ao outro sempre movido pela insânia da ganância
humana. A América Latina não foi um caso de exceção.
A Escravidão
Até
onde se sabe, o Brasil foi “descoberto” por Cabral, um navegador que trazia em
sua nau, entre outros, uma série de degredados, criminosos portugueses sentenciados, portadores de diversas doenças que não só abateram muitos membros da sociedade indígena,
como na maioria das vezes a partir de estupros foram dando origem à
miscigenação que nos é característica, e a qual posteriormente também foi "encorporado" o povo negro de modo certamente não menos violento.
E entre
descobrir a rica terra do pau brasilis e fazê-la colônia de Portugal, temos
todo o desenrolar da história amplamente difundida que já conhecemos, mas aqui
interessa questionar: E os africanos nesse
contexto?
Já
existindo como perverso motor da economia mundial, a escravidão fez com que
esse povo fosse trazido da África em seus mais diferentes países, arrancados de
suas raízes, exilados de sua terra, cultura, família... Tendo invalidado a sua
constituição hierárquica muitas vezes alicerçada em reinados e principados, o
povo negro africano foi expatriado, morrendo aos milhões nas viagens de navio e quando resistindo, ao chegarem no Brasil, foram escravizados e tornados moeda de troca como mercadoria corrente.
Contudo,
essa história de fato não é a de um povo impotente que foi subjugado sem
batalhar ou resistir. Trazendo o seu saber ancestral, a sua sapiência, sua
força foi expressa na capoeira, por exemplo, como uma das possibilidades de
luta, além de incontáveis atos de resistência e enfrentamento direto e indireto
que fez surgir diversos quilombos, além de investidas de revolução protagonizadas por valiosos
guerreiros, homens e mulheres que podem ser sintetizados na figura de Zumbi e Zeferina os quais deixaram um imenso legado, cujo patrimônio é material e imaterial.
No
avançar da história, quando foi decretada o fim da escravidão, ao invés de obter
um efetivo reparo pelo holocausto que sofreram por quase quatro séculos, uma
das primeiras leis a serem criadas pós decreto foi a “Lei da Vadiagem” que
autorizava prender o indivíduo que estivesse “vagando” e assim sem reparação,
de bolsos vazios, muitas documentações queimadas, definitivamente abandonados a
própria sorte, diante de uma política estatal de embranquecimento que importava
estrangeiros, tais sujeitos foram empurrados para a margem dos centros, para os
sub-trabalhos, obrigados a sobreviver sem o pleno direito a cidadania, em
condições de insalubridade fragrante.
Tal
contexto é o fio condutor que explica a origem do que hoje se configura como as denominadas "comunidades" e sua
relação esquizofrênica com o Estado que ora é ausente nos aspectos que lhe são
pertinentes como educação, saúde e renda e ora garante com prontidão a sua vergonhosa
presença meramente repressiva e assassina (sem exagero algum). Sendo por tanto
até os nossos dias um Estado cuja lógica de funcionamento continua perversa e
racista, ratificando em incessante continuidade os pressupostos que deram origem, por
exemplo, a corporações infames como a Polícia Militar na Bahia que até hoje vigem sob o mesmo paradigma constituinte.
Diferenças e desigualdades
O
ser humano como ser social, constrói, assimila e transmite crenças, valores e
costumes que formam esse grande arcabouço denominado de cultura, a qual acaba
por constituir um conjunto ético e moral que norteia (muitas vezes dita)
formas de existir e interpretar o mundo.
Na
contemporaneidade, nessa cultura cuja lógica primordial é o uso, abuso e
descarte, o intercruzamento de duas lógicas perversas: capitalismo e racismo, faz
com que aja uma sobreposição maldita que pode ser testemunhada a olho nu e
facilmente correlacionada nos dados estatísticos das mais simples pesquisas.
São os negros que recebem menores salários, que estão nos trabalhos informais, que estudam menos, os que atuam nas funções
socialmente subalternizadas, os que fazem uso de um sistema de saúde e educação
precarizados, que estão em zonas de moradias irregulares, sem falar no mapa da
violência com seus dados sanguinários.
Parafraseando Hamilton Borges (um dos lideres do
Movimento Reaja, herdeiro na linhagem direta de Zumbi e Zeferina), os negros
chegaram acorrentados e continuam, afinal são eles que lotam as prisões, que
são mortos e enterrados em cova rasa como se suas vidas não valessem nada e
isso como vimos não é gratuito é fruto de uma construção histórica.
Foram duros golpes na dignidade humana, na auto-estima,
todos os elementos da cultura de um povo foram desvalorizados, tratados com
sacrilégio e o efeito não podia ser dos mais perversos: a aceitação dessas
crenças, uma vez que as ideologias da classe dominante foram assimiladas pela classe dominada, é como dizia Stevie Biko "A mais potente arma na mão do opressor é a mente do oprimido" e como ainda é grande essa opressão!
Nesse sentido, também é preciso lembrar Malcolm X em seu célebre
discurso: "Quem
te ensinou a odiar a textura do seu cabelo? Quem te ensinou a odiar a cor da
sua pele a tal ponto que você se alveja para ficar mais branco. Quem te ensinou a
odiar a forma do seu nariz e lábios? Quem te ensinou a odiar você mesmo da
cabeça aos pés? Quem te ensinou a odiar os seus iguais? Quem te ensinou a odiar
a sua raça tanto que vocês não querem estar perto uns dos outros?" Mas, isso vem mudando!
Reconhecimento
Sem
dúvidas é grave a situação, contudo,
não é possível cair no pessimismo porque esse em nada pode contribuir
para mudança, pelo contrário... Mesmo
a passos lentos, é fundamental falar das iniciativas de reparação, dos
grupos de enfrentamento da sociedade civil organizada, do conhecimento da
história crítica por uma juventude antenada que não compra a "história oficial" como verdade definitiva (até porque não é), e sobretudo disposta a mudar esse cenário. Afinal, se o sujeito não for capaz de pensar a sua condição também como
resultado de uma construção sócio-histórica, ele se perde na rota, se descontextualiza, culpabiliza ou se vitimiza, interiorizando essa lógica racista que perpassa a
todos e requer lúcido enfrentamento.
Temos muito que caminhar até chegarmos a ser
uma sociedade onde as diferenças não impliquem em desigualdades, onde sejam
ofertadas reais oportunidades de cidadania a todos e o movimento de auto-afirmação, luta, denúncia,
enfrentamento e resistência com posicionamento crítico, além da fomentação imprescindível da
auto-estima, vem certamente crescendo a olhos vistos nessa direção de modo a engendrar mudanças no Estado e na sociedade.
Apesar do protagonismo ser de quem tem na
pele e na consciência a chaga histórica que necessita cicatrizar, essa
discussão não é apenas dos negros, é também dos pardos, brancos e porque não dizer dos indígenas, ora, é de todos que querem uma sociedade melhor! E os brancos em especial tem muito que falar, quando
conscientes da origem e do que representa essa condição de privilégio, nenhuma
mentalidade com pensamento coerente,
racional, pode querer que tudo permaneça no estado de coisas em que está, essa
condição de privilégio também é muito vergonhosa.
Quando houver proporcionalidade
sem estranhamento por parte de quem está sendo atendido no hospital de médicos
negros, pardos e brancos, bem como na figura por exemplo de juízes e em outras instâncias de poder, saberemos que a chaga se não cicatrizou estará em vias de cicatrizar e o Brasil se tornará um país verdadeiramente de todos, onde ninguém tenha que viver se sentindo em diáspora, precisamos dessa transformação premente aqui e no mundo e cada um de nós podemos contribuir no limite de nossas possibilidades para fazer com que esses novos tempos não se demorem a chegar!
Afinal: “Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele”.
Martin Luther King
terça-feira, 2 de junho de 2015
Viajante
Não vejo graça na piada,
Que tantos cismam em
contar,
Não riu na mesma roda,
Que essa gente insiste
em dançar.
Minha nota é
dissonante,
Não tem como encaixar,
A melodia dos ventos,
O que a brisa teima em
soprar.
Faço assim o meu
caminho,
Que se abre com meu
próprio pisar,
Ando só, mas não
sozinho,
A boa gente a me guiar.
Principio para o
infinito,
Abrindo as porteiras de
mim,
Entre o silêncio e o
grito,
Entre o início e o fim.
Me lanço para além,
De onde as vistas podem
alcançar,
Sem alardes, sem
conclames,
Vou desbravando o além
mar.
Não há razão de temer
ir,
A cada passo dado,
O precioso ganho,
É a descoberta de si!
domingo, 26 de abril de 2015
De objeto à Sujeito
Independente
do contexto, a condição mais ultrajante que o ser humano pode se colocar ou ser
posto é a de objeto, nessa condição, toda a sua complexidade constituinte é
negada.
Tal
complexidade produz demandas sócio-ambientais, desde as mais básicas que estão
na ordem da sobrevivência até as mais sofisticadas que tratam da dimensão ética
e moral, política e cultural ou psicológica e emocional. Todas negligenciadas
ou manipuladas dentro da relação objetal.
Sem
dúvidas, a formação humanista (compreendida em sentido amplo para além do
contexto acadêmico) e o autoconhecimento, são recursos fundamentais a serem
desenvolvidos para que os indivíduos possam ser conscientemente sujeitos de
direitos e de deveres, dotados de pensamento crítico, capazes de realizar
escolhas com discernimento e lucidez, sem cair nos enlaces manipuladores da
insensatez própria ou alheia.
Esse
percurso a ser transcorrido significa efetivo avanço no desenvolvimento da
autonomia e consequente emancipação das habituais circunstâncias que nivelam
por baixo a existência humana e a sua real condição, essa trajetória convida o
ser humano a ser senhor de si para sua necessária e real emancipação.
quinta-feira, 16 de abril de 2015
As Marias
Eram três belezas,
Deusas da sublime realeza,
Adoradoras do tempo,
Governadoras dos ventos.
Deusas da sublime realeza,
Adoradoras do tempo,
Governadoras dos ventos.
De olhos postos para o
passado,
Com olhar de lince assas profundo,
Volviam os mistérios do mundo.
Com olhar de lince assas profundo,
Volviam os mistérios do mundo.
Eram três Marias,
Que caminhavam lado a lado,
Brincavam com as horas,
Soltando as eras,
Qual veloz cavalo alado.
Que caminhavam lado a lado,
Brincavam com as horas,
Soltando as eras,
Qual veloz cavalo alado.
De olhos postos para o
futuro,
Transpassavam as barreiras do muro.
Sem turvar a visão,
Reservavam a esse tempo,
A mais nobre aspiração.
Transpassavam as barreiras do muro.
Sem turvar a visão,
Reservavam a esse tempo,
A mais nobre aspiração.
De olhos postos para o
presente,
Nos diziam: jamais se ausentem!
Derramavam bênçãos nessa estação,
Convocando os homens à transformação.
Nos diziam: jamais se ausentem!
Derramavam bênçãos nessa estação,
Convocando os homens à transformação.
Da Liberdade em sociedade
Os
direitos e as liberdades não são inerentes ao homem como tal... Foi a sociedade
que consagrou o indivíduo e o tornou eminentemente digno de respeito. A sua
emancipação progressiva não implica um enfraquecimento, mas antes uma
transformação dos laços sociais... O indivíduo submete-se à sociedade, e essa
submissão é a condição da sua libertação.
A
liberdade consiste, para o homem, na sua libertação das forças físicas, cegas e
irracionais; consegue-o opondo-lhes a grande força inteligente que é a
sociedade, sob cuja proteção se acolhe. Colocando-se sob a proteção da
sociedade, torna-se também ele, até certo ponto, dependente dela. Mas esta
dependência é libertadora.
Constitui,
pois, um erro básico acreditar que a autoridade moral e a liberdade opõem e se
excluem mutuamente; uma vez que o homem só obtém a liberdade de que goza devido
ao fato de ser membro da sociedade, tem de se sujeitar à autoridade moral que a
existência da sociedade pressupõe. Isto não constitui um paradoxo, pois ser
livre não é fazer o que nos agrada, é sermos senhores de nós mesmos.
A
disciplina, no sentido do controle interior dos próprios impulsos, é uma
componente essencial de todas as regras morais. A perspectiva que equipara inerentemente a disciplina a uma limitação
da liberdade humana e da auto-realização do homem é errônea. Não há nenhuma
forma de organização da vida que não obedeça a princípios regulares e bem
definidos; o mesmo acontece em relação à vida social.
A
sociedade é uma organização das relações sociais, implicando, portanto uma
regulamentação do comportamento de acordo com os princípios estabelecidos, que
na sociedade são obrigatoriamente as regras morais. Só a aceitação da
regulamentação torna possível a vida social, permitindo ao homem colher os
benefícios que a sociedade lhe faculta.
Durkheim em Capitalismo e a Moderna Teoria Social de Anthony Giddens (p.170-171).
domingo, 12 de abril de 2015
domingo, 29 de março de 2015
Mulheres em foco
Há muito que se
conquistar para uma total emancipação da mulher, na atualidade apesar do que
preconiza os direitos humanos, ainda temos cenários que apontam para uma
total subjugação feminina, chegando as raias da clitoridectomia
realizadas em alguns locais da África, no Oriente médio e no sudeste asiático,
nos negando o direito sobre o próprio corpo e qualquer possibilidade de
prazer que lhe seja associado.
Corpo esse que segue
sobre muitas circunstâncias sendo para muitos homens alvo e
objeto de perversa manipulação, como se fossemos peças de vulgar coleção da
qual querem extrair prazer irrestritamente. Assim temos o dever de sobretudo
reconquistar o corpo como propriedade nossa, fora o que ainda temos por
alcançar como maior espaço na política e em todos os setores da sociedade em
que estamos ou iremos nos inserir.
Em meio a esse
cenário, a insurgência de pessoas como a modelo somali Waris Dirie que vem
denunciar a circuncisão feminina, da ativista paquistanesa Malala Yousafzai que
vem a público reivindicar o direito a educação em seu país, além da presença de
mulheres na presidência, em cargos ministeriais, delegadas, policiais entre
tantas outras, nos dão testemunho de que estamos apesar de todos os reveses
caminhando em direção ao avanço de que tanto necessitamos.
São muitas as lutas
e muitas as guerreiras de longa data, professoras, enfermeiras, domésticas,
mães, mulheres do lar, entretanto, já não queremos ser heroínas super dotadas
com tripla jornada, queremos ao nosso lado quem possa conosco andar de cabeça
erguida e mãos dadas na estrada... Temos caminhado e ainda há muito que
caminhar nessa tão desejada e fundamental conquista de uma autonomia não apenas
financeira, mas intelectual e emocional, total, completa, inteira!
quarta-feira, 4 de março de 2015
Disciplina
Distante
de ser uma força repressora que nos enquadre em algum comportamento idealizado,
tolino a genuína expressão individual, a disciplina é uma fundamental
companheira para que possamos caminhar com liberdade, realizar, transformando o
ideal em realidade. Somente
a partir dela é que podemos nos estruturar, organizar as demandas do cotidiano,
fazer planos futuros mais maduros contando com o aprendizado até então
assimilado.
Com a
disciplina aprendemos que não é preciso fazer tudo a um só tempo, não é preciso
exaltação, necessário é fazer um pouco a cada dia, começando pelos alicerces a
fim de garantir boas bases para a construção. No
cotidiano ela se desenvolve a partir da organização que busca estabelecer
prioridades a fim de cumprir as demandas postas para si, sendo fundamental
desenvolver o senso crítico, a capacidade de auto-análise para verificar de
tempos em tempos se a direção que estamos tomando está em consonância com as
nossas aspirações.
A
disciplina é companheira da esperança que tanto lhe dá força, energia, fé para continuar
renovando o íntimo, nos impelindo a seguir em frente, acreditando, se
dedicando, se reanimando depois da luta, sem se deixar abater ou se
entregar. De
conduta ilibada, a disciplina é unida à verdade, por isso tem o pensamento
claro, reto, lúcido, sempre baseado na sinceridade, por ser honesta não tem
predileções por si, assim, não procura se poupar, agindo sempre em favor da
justiça sem receio de se prejudicar. A
disciplina é a chave que abre a porta para uma verdadeira liberdade, sem
a qual não se é livre e sim escravo, afinal como disse Azevedo
"Liberdade sem disciplina é escravidão", assim, ela é a estrada
segura por onde caminhar quando buscamos crescer rumo a uma real emancipação.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Carnaval: festa democrática?
Mais um carnaval em Salvador, arquibancadas e camarotes construídos, praças e patrimônios cercados para evitar depredações, iluminação extra instalada no decorrer dos circuitos e nas proximidades, banheiros químicos distribuídos estrategicamente, contudo sempre aquém da demanda populacional, televisão, jornais, outdoors e todos os meios possíveis de comunicação com propagandas de blocos mil e mercados abarrotados de cervejas e outras bebidas alcoólicas.
Barracas instaladas por
todo o percurso, vendedores oficializados para não serem autuados e também
clandestinos preparam-se para dormirem literalmente na rua durante a
festividade. Tais vendedores podem para evitar a exposição, caso não possam
deixar seus filhos com parentes ou amigos de confiança, colocá-los em abrigos
oficiais durante o período, o que por parte do órgão público vale como uma das
medidas preventivas contra o trabalho infantil, a qual habitualmente falha e via de regra
costuma ocorrer, uma vez que a família incorpora a criança como mais um
trabalhador dentro da economia carnavalesca.
CORDEIROS: A gente que separa gente
de gente
Os dias de festividade se seguirão e enquanto uns pulam e divertem-se embalados por grandes hits não apenas do axé como de diversos segmentos, outros trabalharão arduamente, catadores irão recolher as latinhas e os cordeiros claro estarão presentes... Este ano os cordeiros
continuarão a lutar para garantir os seus direitos básicos, como fornecimento
suficiente de água para beberem durante os exaustivos percursos, protetores
auriculares e luvas, além da oferta de um lanche digno. Sabemos que critérios para
exercer a função nem sempre ocorrem, por isso se vê de tudo, menores de idade,
mulheres, idosos e até grávidas, realmente como diz a música, acredito serem os mais valentes nessa luta do rochedo com
o mar♪.
Durante a contratação,
enquanto alguns blocos (os de grande porte) já emitem quatro vias de contrato e
cumprem os seus deveres ainda que muito aquém do ideal, outros provavelmente
nem contrato fazem. A existência de um sindicado dos cordeiros, ainda que
contando até o ano de 2013 com apenas oito mil dos cinquenta que trabalhavam na
festa já é um avanço da categoria que quem sabe futuramente ganhará uma cadeira
(já reivindicada) no conselho municipal do carnaval, é preciso dar voz e vez a
esses que se tornaram fundamental na atual dinâmica carnavalesca, ainda que tal
função lamentavelmente remeta a vergonhosa herança escravocrata que mais dia
menos dia precisa sim é ser superada. Vale a pena conferir o documentário Vida de Cordeiro lançado em 2008,
apesar de terem havido algumas mudanças, significativa parte dessa realidade
continua a mesma.
BEBENDO E...
No carnaval bebe-se
e muito álcool, bebe-se para se animar e esquentar para a festa, bebe-se para
continuar animado e depois já alcoolizado bebe-se e nem se sabe mais para quê.
Também se beija muito, é o famoso “ficar”, fica-se daqui e de lá, existem gandhys
por exemplo que nem vão até o bloco, saem e ficam nas cordas de outros trios
para paquerarem as moçoilas trocando os famosos colares por beijos, claro que
os tradicionais seguem com o bloco embalados pelo afoxé.
Tal clima de paquera permeia
toda a festividade, claro que mesmo os beijos quando alcançam uma proporção épica podem
trazer alguns reveses à saúde como transmissão de doenças, contudo sem entrar
nessa seara ou na discussão dessas relações meramente objetais, o que deve valer é a vontade de ambos para o
beijo porque caso se dê a revelia ai já implica em ato delituoso merecidamente passível de punição.
Em um
clima permissivo, regado a álcool e outras drogas, regido pela exacerbação do
prazer que deve ser desfrutado ao máximo, em todo o seu potencial, alguns
foliões passam do beijo e apesar de preservativos serem distribuídos no decorrer dos circuitos,
apesar desses esforços, por motivos mil, mesmo assim, lá para setembro/outubro
nascem os "filhos do carnaval" (se não forem abortados) e saber
quem é o pai pode se tornar um enigma muito difícil de ser desvendado.
Durante a festa também postos
de testagem rápida de HIV/Aids são instalados (o que efetivamente possui
baixíssima validade, uma vez que se contraído durante o carnaval, não
haverá tempo de detecção e os que já são portadores não me parecem ter nessa
ocasião momento propício para saberem dessa notícia e sim dirigindo-se aos
centros de testagem que oferecem um real suporte psicológico e de
acompanhamento medicamentoso).
MÚLTIPLAS INTENÇÕES...
As pessoas que vão
para essa festividade são de mil matizes, a maioria realmente quer se divertir
e desfrutar dos prazeres legítimos e outros tão urgentemente necessários quanto descartáveis. A
maior parte acredita que beber (muitas vezes bastante) é indispensável, muitos
jovens saem com seus amigos, àquela turma boa, querendo mesmo é “pular”,
“ficar”, “curtir’... Entretanto, existem os que saem não só com o coração armado,
mas também com as mãos, com sede de sangue, pensam em roubar, brigar, agredir,
se vingar, o que inclui até mesmo matar, aproveitando o volume da multidão para agir
e facilmente se despistar. Os boletins dos hospitais, especialmente de urgência
e emergência, assim como dos postos colocados ao longo dos percursos são
lamentáveis e as imagens que com certeza os programas sensacionalistas
mostrarão também serão.
Mesmo com policiais
na rua (trazidos inclusive do interior para a capital) pretendendo coibir
atuações criminosas e violentas, estes não são capazes de conter completamente
tais ações e pela própria formação truculenta também acabam por atuar mais na
repressão do que na prevenção tendo como maior base de intervenção a
violência. Alguns policiais despreparados (quero acreditar/sonhar que uma
minoria) abusarão do poder e baterão a torto e a direita majoritariamente em
jovens negros, tendo claramente como pano de fundo questões socioeconômicas e raciais.
Durante as ações o
tráfico de drogas é um dos elementos que despontam nas apreensões,
apesar do encarceramento atingir mais fortemente os não
abastados, o tráfico permeia todas as classes sociais envolvidas na festividade
também circulando nos camarotes mais requintados, camarotes que diga-se de
passagem chegam ao cúmulo de conseguir concessão para serem erguidos em plena
praça pública, utilizando um espaço de direito do cidadão para fins particulares,
revestindo valor desproporcional ao ganho à esfera pública pela sua utilização.
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Depois de tanto pular e outros de trabalharem, a
quarta-feira de cinzas chegará, aqueles que trabalharam juntamente com os que
não tiveram condições de retornar para casa e dormiram na areia, ficarão para
participar do inacreditável arrastão... Como sempre os banheiros químicos não
darão conta das multidões e os jatos de água e sabão serão aquém do necessário,
assim, somente a chuva poderá lavar efetivamente esta cidade, arquibancadas e
camarotes começarão a ser desmontados e se não forem devidamente cobrados pelos
órgãos de fiscalização, demorarão em fazer a cidade voltar à normalidade tendo
o engarrafamento como um dos mais desagradáveis efeitos colaterais (desde a
construção até o desmonte).
Carnaval é uma festa onde
as diferenças (positivas e negativas) construídas ao longo da história se
apresentam em poucos dias, por isso, ficam tão ampliadas às alegrias e
tragédias. É mesmo urgente pensá-lo e refleti-lo em nível de Brasil, para que
nos conhecendo melhor possamos propor as mudanças mais que necessárias
inclusive pensando meios cada vez mais efetivos de coibir que brasileiros ou
estrangeiros saiam de seus estados ou países e usem esse momento para fazerem
turismo sexual, soltarem suas feras, deixarem seus lixos e depois voltarem para
suas casas nos deixando com feridas que tornam a ser reabertas a cada
fevereiro e não cicatrizam jamais por não deixarem de fazer vítimas.
Interessante o dado da
pesquisa divulgada no ano de 2013 pela secretaria estadual de cultura em
parceria com a superintendência de estudos econômicos e sociais da Bahia que
revela que 77,9% dos soteropolitanos não participam da festa momesca, viajando
ou permanecendo em casa assistindo pela TV, pelo jeito carnaval tem se tornado
uma festa para visitantes.
EM FIM...
Brincar com responsabilidade, na pipoca, no
bloco, no camarote, tomar cerveja para refrescar (ainda que água, especialmente
de coco e sucos sejam além de refrescantes, hidratantes, justo oposto
do álcool), beber socialmente, sem fazer disso a mola propulsora para se sentir
bem e se divertir, manter o coração desarmado, a mente consciente sem o direito
de perder a lucidez e agir com insânia, sem ressacas físicas ou morais parece
ser o modo mais equilibrado de vivenciar este período que nos convida a
exacerbações... Apesar das peculiaridades de cada estado em comemorar,
precisamos saber o que significa ser o país do carnaval e estar entre as
cidades que promovem a festa. Para quem sabe brincar e vai para o carnaval
divirta-se e muito, para quem é de descanso, aproveita o período para
recarregar as baterias, do modo que melhor aprouver bom período carnavalesco para todos!!
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