domingo, 9 de novembro de 2014

Uso, abuso, dependência



Dizer a juventude que as drogas só fazem mal é antes de tudo lhes subestimar a inteligência, uma vez que tanto lícitas como ilícitas tais substâncias só são capazes de gerar adictos pelo fato de produzirem sensações prazerosas, de alívio, de excitação, de relaxamento em curto prazo ou de modo imediato, além de servirem como veículo de socialização seja para se enturmar, para parecer mais autoconfiante ou simplesmente fazer charme entre tantos outros motivos possíveis.
O modo mais coerente de tratar sobre o tema não parece ser a partir do prisma da demonização das substâncias ou dos usuários, em uma análise estreita que isola os fenômenos sócio-culturais, psicológicos e biológicos envolvidos.
Buscar compreender esse fenômeno de maneira mais ampla, não discriminatória e preconceituosa (possível) é sem dúvidas o ideal. Se atendo as drogas lícitas como álcool e cigarro, por exemplo, cujo acesso é simples e fácil uma vez que a lei de venda para maiores de dezoito anos ainda que exista raramente é respeitada, é preciso ponderar que o uso em si não implica em dependência, necessitando correlacionar-se a frequência e intensidade no espaço temporal para que tal vinculação aconteça.
A partir dessa ponderação, verificamos em países como o Brasil diante de diversas pesquisas, especialmente as oriundas da Organização Mundial de Saúde (OMS) que tem sido cada vez mais precoce o início e frequente o uso (em termo de vezes) de tais substâncias, o que ai sim abre campo para a dependência.
Apesar de no início desse ano a OMS divulgar queda da parcela de fumantes de 2006 com 15,7% para 11,3% em 2013, ainda é grande o número de usuários cujo maior índice 75% na América Latina, por exemplo, começou a fumar entre 14 e 17 anos, com estimativa de 50% de esses virem a se tornar dependentes.
Em tempos de redução de danos, em uma sociedade que desde os tempos mais longínquos fez uso de substâncias alucinógenas, diante do apelo fácil que a nicotina faz estimulando a dopamina ou o álcool o sistema GABA e bem como os demais e seus variados apelos, parece mesmo que a grande demanda é absorver criticamente todo esse conhecimento produzido voltando o olhar para o humano e a natureza das relações que este estabelece com as substâncias e sua representação, não apenas com toda sorte de drogas, mas com qualquer relação que lhe traga dependência (chocolate, pessoas, compras...).
Como bem disse Antônio NeryAs drogas são produtos químicos sem alma, não falam, não pensam, não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes”. Voltemos então nossos olhos para esse ser a fim de compreender suas razões, limites e possibilidades dentro da sua realidade,sem esquecer o enquadre social, lembrando que para quem quer abandonar essas muletas há desafios e dificuldades, mas todas possíveis de serem superadas desde que existam real suporte e auxílio, além de claro força de vontade.

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