A forma como se articula a
segurança pública, mesmo em países democráticos como o Brasil tornam este
dispositivo mais coercitivo, do que um real suporte que garanta uma eficiente
regulação do comportamento idealizado que o indivíduo deve adotar para conviver
em sociedade. No dia-a-dia, facilmente o cidadão passa a ser aquele
que possui apenas deveres, sendo negligenciado em seus direitos. Quantas
pessoas já não temeram algum ato de violência ou viram-se vítimas do abuso de
autoridade daqueles que deveriam lhe proteger?
Sem sombra de dúvidas é um quadro complexo em que não se pode reduzir a
dimensão de culpado e inocente, vítima e algoz, além disso, trata-se de uma
área de atuação muito delicada com várias demandas e pendências a se
solucionar, dentro de um contexto de influência histórico-cultural sui generis
como é o brasileiro. Entretanto, há um fato que
não se pode negar, em todos os níveis e cargos desse dispositivo, de
juízes à delegados, passando por agentes penitenciários e policiais que se encontram
na ponta da lança, precisa-se urgentemente de profissionais qualificados não só
no campo da instrumentação mas também e fundamentalmente no campo ético, com
autoridade, mas, sem autoritarismo para que esse formato de lança seja desfeito
e uma nova figura mais apropriada possa emergir.
A
mesma lógica faz com que profissionais da área da saúde, especialmente médicos,
se sintam pouco atraídos em trabalhar junto à atenção primária, em unidades
básicas de saúde, como se atuar em tal área fosse de certo modo um desperdício
de todo o conhecimento que se adquiriu durante a formação e o local apropriado
para um real desempenho de sua função
estivesse cincunscrito apenas nos hospitais com atenção de
média e alta complexidade. Assim como uma palestra no
posto de saúde sobre o necessário cuidado com os pés diabéticos poderia evitar
futuramente uma intervenção de emergência, também na segurança pública,
valorizando mais a prevenção do que a repressão e a punição (muitas vezes
arbitrária) se evitaria muitos efeitos colaterais e se geraria menos demandas.
Resta
apenas uma certeza, há muito que ser feito, caminhamos em políticas públicas,
se tem buscado uma melhoria do funcionamento desses dispositivos para aumentar
a eficácia dos mesmos, entretanto, é preciso muito mais investimento, sem negligenciar
a educação que tem sido tão mal tratada neste país, para que a justiça ao
julgar, o policial ao agir, sejam mais justos, certamente ainda temos muito que
caminhar... Justiça abandona esta espada!!